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30 de maio de 2025 6l645c

Encerramento do II Encontro da CITAFRO aponta caminhos estratégicos dos afrodescendentes rumo à COP 30 191j4n

Reconhecimento internacional, justiça climática e protagonismo político marcaram o último dia do encontro, que consolidou o plano de ação da Coalizão para a Conferência do Clima em Belém k1p3e

O último dia do II Encontro da Coalizão Internacional dos Povos Afrodescendentes da América Latina e Caribe para a Justiça Climática (CITAFRO), realizado em Brasília entre os dias 27 e 30 de maio de 2025, marcou um momento decisivo para o fortalecimento político, organizativo e estratégico dos afrodescendentes frente à agenda climática global. 

Com foco na preparação para a COP 30, a plenária final foi dedicada à apresentação dos resultados dos Grupos de Trabalho (GTs) temáticos, à estruturação do plano de comunicação e à definição das estratégias de incidência política e logística rumo à conferência, que acontecerá em novembro na cidade de Belém, no Pará.

 

Construção coletiva de agendas estratégicas h1m1c

Durante os dias anteriores, oito grupos temáticos debateram intensamente e formularam propostas concretas para garantir a inclusão dos povos afrodescendentes nos principais instrumentos climáticos globais e nacionais. No encerramento, os responsáveis por cada GT apresentaram os resultados de suas discussões.

Cada grupo trouxe diagnósticos, recomendações e propostas de incidência voltadas à inclusão dos povos afrodescendentes nas discussões técnicas e políticas da UNFCCC (Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima).

Foram destacadas a urgência da inclusão das especificidades afrodescendentes nas NDCs, a necessidade de financiamento climático direto, a proteção de territórios frente a projetos de transição energética e a criação de instrumentos institucionais próprios de representação, como um Caucus Afrodescendente dentro da COP.

 

Plano de comunicação: articulação e presença política afrodescendente na COP 30 2t5i2h

Crédito: Thaís Rodrigues.

O final do encontro foi dedicado à definição da estratégia de comunicação, incidência e logística para a COP 30. Sob a coordenação de Darwin Torres, Oswaldo Bilbao e Natália Purificação, foi apresentado o roteiro final de mobilização da CITAFRO até a conferência climática.

A proposta contempla a sistematização dos documentos temáticos produzidos pelos GTs, o fortalecimento do diálogo com governos aliados e organismos multilaterais, e uma presença articulada e unificada dos povos afrodescendentes nos “Círculos dos Povos” e demais espaços oficiais e paralelos da COP 30. Também foi reforçada a necessidade de construir alianças com os movimentos indígenas e aliados internacionais, sem abrir mão de espaços próprios de protagonismo e identidade.

 

Autoridades presentes e reafirmação do compromisso político 5g1t13

Crédito: Thaís Rodrigues.

O encerramento do evento contou com a presença de autoridades brasileiras, entre elas o Ministro-Chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Márcio Macedo, que recebeu as demandas da Coalizão e reafirmou o interesse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em se encontrar com lideranças e visitar um quilombo antes da COP 30. O gesto foi recebido como um importante o simbólico e político na construção de compromissos concretos com os povos afrodescendentes.

“A questão do envolvimento das mulheres como guardiãs da natureza, acreditamos que o papel que as mulheres afro desempenham na ação climática e na conservação é importante, então que haja uma voz fundamental também. E também queremos que nos ajudem com os negociadores, a equipe negociadora do Brasil, a equipe negociadora da Colômbia, junto conosco, vamos a essa discussão”, solicitou Absalón Suárez, presidente do Processo de Comunidades Negras, PCN, a autoridade brasileira.

Já em nome da CONAQ, o articulador político Biko Rodrigues fez questão de detalhar o documento da CITAFRO entregue no dia 29 às ministras Anielle Franco e Marina Silva e ao presidente da COP 30, André Corrêa do Lago e também ao ministro durante a Secretaria-Geral.

“Entregamos as ministras no sentido de cobrar, para que esse espaço (COP 30), ele tenha abertura para que as comunidades rurais, as comunidades afrodescendentes da América Latina e Caribe, tenham espaço que hoje é muito caro para nós. Nós somos a vítima, a principal vítima de todas essas catástrofes e sofremos muito, mas vivemos com a invisibilidade”, pontuou,

A coordenação do encontro, composta por José Luis Rengifo, Katia Penha, Paola Yanez, Pablo de la Torre, Isabel e Sandra Maria da Silva Andrade, conduziu o encerramento com a apresentação do roteiro final de trabalho da CITAFRO, convocando as delegações a seguir em diálogo contínuo até a conferência em Belém.

 

 Uma voz conjunta e internacional dos afrodescendentes 70122

O II Encontro da CITAFRO consolidou um processo político coletivo e histórico rumo à COP 30. As principais deliberações reforçam:

  • O reconhecimento dos povos afrodescendentes como sujeitos de direito internacional coletivo, com identidade própria e não apenas como comunidades locais;
  • A exigência de inclusão dos povos afrodescendentes nas NDCs e em todos os mecanismos e instrumentos climáticos nacionais e internacionais;
  • A criação de espaços próprios de representação afrodescendente, como o Fórum e o Caucus Afrodescendente dentro da UNFCCC;
  • A defesa dos territórios afrodescendentes, ameaçados por projetos de transição energética que não respeitam o direito à consulta prévia, livre e informada;
  • A demanda por financiamento climático específico, direto e desburocratizado, que reconheça o papel dos povos afrodescendentes na preservação da biodiversidade, no enfrentamento às mudanças climáticas e na construção de alternativas sustentáveis.

 

Crédito: Thaís Rodrigues.

“Nós não somos imigrantes da Amazônia, nós somos povos que vivem na Amazônia e mantêm essa floresta de pé. Nós somos filhos e filhas de todos os biomas. Se o pulmão do mundo está na Amazônia, nós somos os demais órgãos desse pulmão do mundo”, afirmou Kátia Penha, coordenadora da CONAQ. 

A CITAFRO reforçou sua força coletiva que conecta o ado de resistência ao futuro da justiça climática. A COP 30, em Belém, não será apenas um evento técnico ou institucional, mas uma arena onde as vozes afrodescendentes ecoarão com legitimidade, ancestralidade e projeto político. É importante frisar que o evento organizado pela ONU é mais uma etapa para a consolidação das vozes afrodescendentes para além da conferência.